Irradiações de corpo ausente
Este é o projeto e a pesquisa artística que desenvolvo desde o início de 2020 e consiste em duas séries de colagens manuais de fotografias e radiografias: Colunas e Constelações; performances em vídeos, como a taioba; intervenções em Suturas; uma publicação de artista, afinal qual era o nome do barco? - Esperanza; além de outros estudos ainda em processo. Uma boa parte deles estão aqui nesta página, também o poema que dá nome ao projeto e o resultado da primeira exposição.
A partir da experiência da morte do meu pai, de ver seu corpo quebrar e de herdar suas imagens desse processo, faço a pergunta: “O que posso fazer com essas radiografias de sua anatomia? Desse corpo ausente que deixa imagens. Busco e encontro nas minha caixas de fotografias, nas memórias e no amanhecer entre as folhagens das árvores do bosque do meu quintal a luz que preciso para criar um novo organismo, uma nova coluna, uma célula outra para constelar neste céu de imagens que estou a costurar. Com fio e agulha busco novos caminhos. Amarro, entrelaço, puxo, solto, furo. A cada gesto, abro novas cicatrizes e traço nas imagens rastros conexos; faço delas outros espaços para transformar suas supostas realidades e significados.
passo o fio na agulha
todos da meada
é preciso costurar
plantar árvores na coluna vertebral quebrada
encontrar o sentido do rio que procura o mar
é melhor desaguar
a represa de viver ficou pesada. rompeu
a sutura não fecha
o corpo rejeita esses parafusos
os passos ficam suspensos
e as noites invisivelmente longas
é tempo de esperar os ossos
abrem-se as comportas
estamos à deriva
a vida projetada em segundos infinitos
lembranças
perdas?! deixa seguir; são só imagens
alguns fragmentos da memória
recortados; remendados com ponto-atrás
já não preciso mais delas (e nem você)
que sejam outras
sejam nuvens. luzes!
nesse diagnóstico anatômico
é preciso seguir
alinhavar asa de borboleta
aurora e litoral
lembra da brisa?! esquece essa dor
escuta a água que vai espelhar uma pedra
duas ou quantas mais?
deixa. não são reais
são especulações de um tempo que já foi
irradiações de um corpo ausente