Entre Prata & Areia
PARTÍCULA MÍNIMA
Uma área plana e retangular surge na areia deslizante como a promessa de uma imagem que começa a se compor. Logo um objeto luminoso e vertical corta o horizonte distante, anunciando a superfície ao olhar. Em outro momento, um reflexo atinge um homem que caminha na areia, levando o olhar a vazar por entre os corpos. Entre essas fotografias, outras trazem à tona imagens que emanam ao nosso redor. Seja pela materialidade ou pelo especular, o trabalho de Guadalupe Presas , ENTRE PRATA & AREIA, nos leva o tempo todo à própria fotografia, na sua forma elementar e necessária, onde o grão aparece como partícula mínima de um processo que aos poucos nos escapa. O grão, a prata, assim como a areia, se fundem numa mescla tátil que nos seduz ao espaço das relações possíveis entre o mundo, seu imaginário e suas imagens potenciais.
Anuschka Lemos
ENTRE PRATA & AREIA desdobra a lógica figural a qual estamos acostumados quando aponta, pelo serviço tautológico de enquadramentos, um desafio ao nosso repertório visual. A confiança na fotografia como fragmento, como a menor parte dentro do todo, é desfeita diante do outro que surge pelo reflexo do espelho, insinuando no dentro do dentro que a medida do visível não está concluída e que a noção mesma de representação pode desviar-se de seus estigmas. No plano bidimensional da fresta abre-se a inesgotável possibilidade da visualidade: múltiplos que dependem de outro jogo, bem além da fisiologia do olho, porém bem mais próximos da função do olhar. O que significa dizer que o que essas fotografia provocam não têm a ver com a apropriação do tangível, mas justamente com aquilo que se desdobra pela fantasia e vacila a razão. Seria interessante formular, através do pensamento desta proposição de Guadalupe Presas, uma teoria do excesso onde a realidade pode ser sempre um mais, nunca um menos, e prolifera determinada pelo desejo de criação.
Milla Jung